25 de fev. de 2012

CIDADES SE PREPARAM PARA CLIMA RADICAL

Atingidas pelos impactos da mudança de clima e cansadas de aguardar que os governos nacionais cheguem a um acordo sobre as ações diante da mudança de clima, as cidades vulneráveis estão tomando medidas concretas para se adaptar a um mundo rumo ao aquecimento.

A certa altura, as autoridades municipais chegaram a considerar a possibilidade de destruir as ruas. Bangcoc estava em situação de desespero. Um dilúvio vindo do Norte, um desastre em câmera lenta que começou em julho com uma forte tempestade tropical, ameaçou tomar conta da capital tailandesa. As autoridades queriam deixar que as águas da enchente escoassem mais rápido para o mar.

No fim, as ruas foram poupadas, mas as enchentes transformaram um terço da metrópole em pântano e, meses depois, edifícios no centro da cidade ainda estavam cercados com sacos de areia.

Bangcoc é apenas uma entre muitas cidades cada vez mais expostas ao clima extremo, o qual os cientistas estão, pela primeira vez, associando explicitamente à mudança climática. As cidades são especialmente vulneráveis devido às suas elevadas concentrações de pessoas e ativos econômicos.

Segundo estudo do Banco Mundial, os perigos induzidos pela mudança de clima são especialmente altos em países de baixa renda, onde cerca de 70 milhões de pessoas mudam-se a cada ano para áreas urbanas – e estas, muitas vezes, ainda não estão preparadas para os riscos futuros.

"Cidades como Manila (Filipinas), Jacarta (Indonésia) e Calcutá (Índia) são núcleos vitais de crescimento econômico em mercados emergentes essenciais, porém a ocorrência de ondas de calor, inundações, falta de água e tempestades cada vez mais frequentes e mais violentas poderão muito bem aumentar à medida que a mudança climática se impuser", afirma Charlie Beldon, analista-chefe de meio ambiente para a empresa de análise de risco Maplecroft.

Contudo, o clima extremo não poupa nem os ricos. Brisbane foi inundada no final de 2010; Nova Iorque fechou o metrô e evacuou 370 mil cidadãos por medo do furacão Irene, em agosto de 2011; e Gênova foi inundada após dias de chuva torrencial no último outono.

A catedral subterrânea de Tóquio
Isso definitivamente requer planos de ação que tornem as áreas urbanas mais resistentes. Mas para onde as cidades em rápida expansão devem olhar em busca de modelos de adaptação?

Que tal Tóquio, capital de um dos países mais propensos a desastres em todo o mundo? Como bem definiu um jornalista alemão, a cidade é uma espécie de erro na história do assentamento humano, pois a maior área metropolitana do mundo é vulnerável a terremotos, tsunamis, ciclones e inundações.

Seus edifícios resistentes a terremoto são mundialmente famosos, porém menos conhecido é o seu vasto sistema subterrâneo de drenagem, que é capaz de escoar 200 toneladas de água por segundo das ruas da cidade, dos estacionamentos e das linhas de metrô, drenando-as para o Oceano Pacífico.

Tal como uma gigantesca catedral subterrânea, o sistema conhecido como "G-cans" é construído em torno de enormes cilindros verticais (30 m de largura e 60 m de altura) que conectam mais de 60 quilômetros de túneis. Trata-se de um feito incrível – e altamente eficiente – da moderna engenharia.

A obra também custou caro – mais de dois bilhões de dólares. E não há muitas cidades que podem bancar uma proteção tão sofisticada contra o clima extremo.

Soluções adaptativas
Apesar de tudo, a consciência internacional sobre a necessidade de soluções adaptativas é crescente.

A gestão de risco não significa, necessariamente, enterrar bilhões de dólares em um único megaprojeto, como o sistema subterrâneo de Tóquio, as defesas anti-inundação da Holanda ou a barreira do Rio Tâmisa, em Londres.

Existe um amplo conjunto de ações mais modestas que podem ajudar a adaptar as cidades às mudanças de clima e evitar os impactos de longo prazo sobre a saúde humana que podem surgir após um evento climático extremo.

Sob os auspícios da campanha Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR, na sigla em inglês), as cidades estão aumentando seus esforços para se tornarem mais resilientes. Especialmente no mundo em desenvolvimento, elas não podem se permitir ficar por mais tempo à espera dos bilhões de dólares dos fundos ecológicos prometidos pelas nações ricas.

Jacarta desenvolveu sistemas de alerta que informam seus cidadãos via SMS sobre enchentes prestes a acontecer. São Paulo identificou áreas de favelas que são propensas a deslizamentos de terra e requerem melhorias urgentes.

A Cidade do México definiu uma estratégia de ação climática local para reduzir as emissões de CO2 que inclui um plano de 15 anos, com medidas que abrangem desde a conservação do solo, espaços públicos e poluição do ar até a gestão de resíduos.

Em uma escala mais ampla, o Estado indiano de Orissa, apesar de ser um dos mais pobres do país, está se tornando um modelo para outras regiões densamente povoadas e vulneráveis a terremotos, ciclones e enchentes.

Em cidades como Balasore, Bhadrak, Kendrapara e Puri, o órgão estadual para gestão de desastres coordena projetos custeados pelo Banco Mundial e voltados para a melhoria das práticas construtivas, dos sistemas de alerta e comunicação, além da construção de abrigos contra ciclones.

Na América do Norte os cidadãos também estão se preparando para condições mais instáveis. Chicago, por exemplo, está tomando medidas prevendo um clima mais quente e úmido. Os planejadores urbanos estão projetando ruas que receberão calçamento com materiais permeáveis.

Os locais mais problemáticos da cidade serão 'refrigerados' por meio da remoção do pavimento e da colocação de vegetação sobre os telhados. Todas as escolas públicas contarão com ar-condicionado.

Conforme diz Aaron Durnbaugh, comissário adjunto do Departamento de Meio Ambiente de Chicago, em sua declaração ao New York Times: "A mudança climática está ocorrendo de modo real e dramático, mas também de forma lenta e onipresente. Nós podemos lidar com isso, mas precisamos reconhecer o problema... As cidades terão de se adaptar ou serão eliminadas."



Michael Grimm

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