25 de jul. de 2010

Uma trilha para o futuro, Energia e Mudança do Clima

Passado o período de expectativa irreal e decepção exagerada que costuma anteceder e suceder grandes eventos globais, chegou a hora de se fazer uma reflexão mais apurada sobre a COP15 – 15º Conferência das Partes, realizada no final do ano passado em Copenhague. E sem perder a perspectiva de seguir em frente.

Em resposta ao fracasso das negociações multilaterais durante os dez dias da conferência na capital dinamarquesa, 40 países desenvolvidos submeteram suas propostas de metas de redução de emissões até 2020, e 30 países em desenvolvimento, entre estes o Brasil, revelaram seus planos sobre formas de mitigação, ou seja, como pretendem reduzir as emissões.
A reação aparentemente audaciosa dos dois blocos de países que respondem por mais de 80% das emissões globais não atende à demanda global.

Estimativas científicas recentes prevêem que, mesmo que as propostas sejam implementadas à risca, haverá um aumento na temperatura média do planeta de aproximadamente 3,9 graus em 2100 bem acima do patamar recomendado pelos especialistas de recomendar o aumento máximo em 2 graus. Ou seja, as medidas planejadas pelos governos ainda são insuficientes para evitar uma alteração climática irreversível e com conseqüências desastrosas.

Contudo, não se pode deixar de reconhecer os avanços obtidos durante a COP15.O principal deles foi o fim da polarização irracional de grupos antagônicos. Todos assumiram o compromisso de conduzir suas economias para um modelo de baixo carbono.

A compreensão mais clara sobre o papel da ONU nesse contexto também deve ser vista com avanço. É um equívoco muito grande esperar por uma solução milagrosa da instituição. Sua função é de formalizar, via acordos políticos, o que se amadureceu no processo e regulamentar as decisões para evitar injustiças e exageros.

Foi positiva ainda – embora distante do patamar ideal – a maior inserção do setor empresarial no jogo da negociação e, especialmente, no processo de implementação de medidas práticas. A Comissão Européia decidiu financiar um estudo visando a diminuir a lacuna de entendimento entre o setor privado e os governos no âmbito da ONU.

Neste projeto coube ao Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, sigla em inglês) a articulação com as empresas na busca de novos modelos de cooperação entre os dois setores. Este movimento do setor privado faz parte do pressuposto que a voz do setor não ecoa no processo de negociação, e que é preciso formalizar um canal de participação de quem tem a competência, a disciplina e os recursos para alterar a inflexão da curva de emissões.

O conselho programou quatro eventos mundiais para deliberar sobre o tema. O primeiro foi realizado na China, o segundo em São Paulo, e os próximos estão previstos para Washington, Estados Unidos, e Bruxelas, Bélgica.

O evento em São Paulo, realizado no dia 14 de abril em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), resultou em uma discussão extremamente produtiva entre os vários atores presentes sobre como o empresariado latino-americano pode ter um envolvimento mais ativo no processo de negociações.

Na reunião preparatória para a COP16, a ser realizada em junho em Bonn, na Alemanha, serão mostrados os primeiros resultados deste esforço.
No caso do Brasil, torna-se imprescindível no curto prazo um canal de discussão permanente entre empresas, governo e sociedade para definir como vamos atingir as nossas metas anunciadas em Copenhague, e quem sabe, ampliá-las.

Precisamos trabalhar muito, a partir de agora, para que a próxima conferência da ONU sobre o clima, marcada para o final deste ano no México, transforme-se efetivamente num marco em defesa do clima.

Marina Grossi é presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

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