23 de jun. de 2011

Clima ganha importância na visão dos investidores

Pesquisa indica que há diferenças significativas entre América do Norte, Austrália e Europa ao considerar as consequências das mudanças climáticas nos negócios, porém mostra que acionistas estão mais preocupados com o aquecimento global

A maioria dos investidores parece já ter percebido que as mudanças climáticas influenciam os negócios, mas a quantidade dos que consideram esse aspecto em seu trabalho pode variar muito em cada região. É o que aponta um relatório desenvolvido pela Mercer a pedido do Grupo de Investidores sobre Mudanças Climáticas, da Rede de Investidores Norte-Americanos sobre Riscos Climáticos e o Grupo de Investidores Institucionais sobre Mudanças Climáticas.

O documento, intitulado "Pesquisa de Investidores Globais sobre Mudanças Climáticas" e lançado na última segunda-feira (13), reúne respostas de 44 empresas proprietárias e de 46 gestoras de ativos, que juntas totalizam mais de US$ 12 trilhões em ativos. O estudo aponta que, em 2010, no geral, cerca de 10% das gestoras já começavam a integrar assuntos ambientais, sociais e de governança em seus processos de investimento.

Entre as companhias entrevistadas, essa porcentagem é maior: aproximadamente 87% das gestoras e 98% das proprietárias incorporam as avaliações de risco das mudanças climáticas em seus investimentos, demonstrando que lidar com os riscos e oportunidades das mudanças climáticas é um foco importante para os acionistas.

Além de mais da metade das firmas entrevistadas investirem em fundos focados diretamente nas alterações climáticas, a pesquisa aponta que mais de 15% das gestoras e 45% das proprietárias de ativos consideram fazer uma alocação para investimentos temáticos nos próximos anos.

De acordo com o relatório, “a maioria dos participantes vê as mudanças climáticas como sendo um risco e/ou oportunidade de investimento material para o portfólio de investimento de suas organizações. Isso está se tornando uma questão de gestão estratégica, apoiada pela descoberta de que a responsabilidade pelas mudanças climáticas está agora com a maioria dos investidores”.

“Quando nós falamos de progresso, nós percebemos que vem ocorrendo um aumento evidente no nível de reflexões sobre esse assunto”, declarou Ole Beier Sorensen, presidente do Grupo de Investidores Institucionais sobre Mudanças Climáticas (IIGCC em inglês) e líder de pesquisa e estratégia do fundo de pensão dinamarquês ATP.

“É encorajador que as mudanças climáticas estejam se tornando um assunto mais estratégico para a maioria das proprietárias e gestoras de ativos. Cada vez mais elas vêem as mudanças climáticas como um risco e uma oportunidade de investimento. No entanto, para lidar com os riscos e oportunidades decorrentes das mudanças climáticas, os investidores devem ter as ferramentas para agir significativamente”, acrescentou Sorensen.

No entanto, a pesquisa indica que o índice de empresas que relacionam as alterações climáticas com seus negócios varia muito de região para região. No cenário dos países desenvolvidos, a Europa é a que mais considera as questões climáticas nos negócios, seguida da Austrália e da Nova Zelândia, cujas incertezas das políticas internas impedem um progresso maior nesta questão, e dos Estados Unidos, onde essa abordagem ainda é pouco desenvolvida.

Para se ter uma ideia, do total de ativos gerenciados ou adquiridos pelas companhias entrevistadas, uma média de 0,3% foram investidos em projetos ligados às mudanças climáticas, como a implementação de energias renováveis ou o desenvolvimento de tecnologias limpas. No bloco europeu, esse índice chegou a 0,5%; na Austrália, a 0,3%; e nos Estados Unidos, a 0,1% dos ativos.

Nathan Fabian, diretor executivo do Grupo de Investidores sobre Mudanças Climáticas (IGCC em inglês) da Austrália, afirmou que seus associados estavam “se preparando ativamente para investir [em projetos climáticos]. Mas não há dúvida de que a falta de clareza sobre o preço do carbono está impedindo investimentos”.
Já Mindy Lubber, diretora da Rede de Investidores Norte-Americanos sobre Riscos Climáticos (INCR em inglês), defende que “os investidores dos EUA têm preconizado políticas climáticas mais consistentes, e eles têm tido sucesso em conseguir que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA emita requisitos de divulgação inovadores de riscos climáticos para empresas. [...] Isso será um foco chave para a INCR nos próximos meses”.

Para alguns acionistas, são as políticas climáticas que poderão permitir que integração entre negócios e mudanças climáticas seja mais consistente. “Uma das coisas mais importantes que os investidores podem fazer é ter um diálogo com os responsáveis políticos. É realmente a política que vai fornecer os sinais certos de preço”, explicou à BusinessGreen Stephanie Pfeifer, diretora executiva do IIGCC.

“É extremamente difícil para investidores fazer uma alocação em escala para ativos de baixo carbono enquanto as definições políticas são fragmentadas ou em curto prazo. Nós lutaremos para fazer distribuições temáticas, mas realocações de investimentos substanciais para uma economia de baixo carbono requerem que os responsáveis políticos intensifiquem os sinais de investimentos de longo prazo”, disse Frank Pegan, presidente da IGCC Austrália/Nova Zelândia.

“Mais do que qualquer coisa os investidores precisam de estruturas políticas estáveis e transparentes que forneçam clareza e segurança. Alguns países e regiões estão indo na direção certa, mas ainda há um longo caminho a trilhar. Os responsáveis políticos precisam afastar as barreiras para investimentos de baixo carbono e precisam criar um preço para o carbono relativamente previsível”, finalizou Sorensen.

Jessica Lipinski

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