18 de jul. de 2010

A economia verde

A América Latina, ocupando hoje nova posição na geopolítica mundial, avançou muito no estudo das causas das mudanças do clima, mensuração de seus impactos e medidas a serem implantadas em prol de uma economia de baixo carbono.

Os objetivos já quantificados visam reduzir as emissões projetadas, resguardar a matriz energética limpa e promover transformações setoriais na agricultura, na siderurgia e no transporte, além de evitar o desmatamento.

A agricultura, nestes perigosos tempos de mudança do clima, é o setor que terá a responder ao desafio de alimentar as populações ameaçadas pelo acirramento do temível fenômeno climático.

O mundo precisa duplicar a produção de alimentos até completar-se a primeira metade do século em curso. Projeções de médio prazo, focadas em 2020, mostram crescimento no patamar de 55% da demanda global por grãos. Já se calcula que a meta da superação da fome, fixada pela ONU em 2015, somente será alcançada em 2030.

A América Latina requer não apenas vastas terras agricultáveis, mas uma evolução de tecnologias em seus plantios e colheitas. Isso ampliará mais ainda o papel dos especialistas que atuam na área.

A maior dificuldade está em determinar a relação entre a mudança do clima e o efeito sobre a produtividade agrícola - tarefa que envolve a combinação de ciência agrícola, botânica, genética e economia.

O Fórum Econômico Mundial para a América Latina iniciado nesta semana em Cartagena, avalia o reconhecimento internacional da relevância das florestas tropicais para a segurança climática.
As iniciativas de redução das emissões por desmatamento e devastação florestal foram consideradas e referidas em três dos doze parágrafos do acordo final em Copenhague.

Identifica-se portanto, um enorme potencial de ganhos com mecanismos compensatórios (tipo Redd) para que se evitem as emissões provenientes do desmatamento.

Para garantir a floresta em pé, esta solução de mercado é cada vez mais consensual, desde que acompanhada por Fundos Especiais dirigidos as necessidades das regiões mais vulneráveis.
Um passo concreto para novos rumos foi dado por 55 países, responsáveis por 78% das emissões de GEE na escala global. Em 2010, esses países entre os quais Brasil, Costa Rica e México aderiram ao Anexo do Acordo de Copenhague.

Apesar das metas declaradas serem insuficientes, o documento fixa objetivos de redução por país, tendo como horizonte o ano de 2020. Tais compromissos pavimentam o caminho da COP 16, em Cancun, México, e certamente mobilizarão lideranças políticas e empresariais das nações envolvidas, em harmonia com as comunidades científicas.

A economia, na América Latina e no plano global, é termo decisivo nesta equação. Impõe-se ampla sensibilização do empresariado para o entendimento de que o setor produtivo é tão vulnerável às bruscas variações de clima quanto às aglomerações urbanas.

A ação econômica, hoje, não pode ser mais animada pela confiança no progresso infinito, e sim pela noção clara dos limites e dos riscos.

Jacques Marcovitch é professor da USP e integrante do Conselho para a Agenda Global sobre o Futuro da América Latina do Fórum Econômico Mundial

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