29 de jun. de 2010

Redução de emissões de carbono é compatível com crescimento brasileiro, diz Banco Mundial

Foi lançado oficialmente no dia 17 de junho o Estudo de Baixo Carbono para o Brasil, realizado pelo Banco Mundial. Segundo o documento, é possível reduzir em 37% as emissões brutas de gases do efeito estufa até 2030 mantendo os atuais objetivos de desenvolvimento programados e sem efeitos negativos sobre crescimento e emprego. Isso equivaleria a retirar de circulação por três anos todos os carros do mundo.

O documento indica que o País possui muitas oportunidades em relação à mitigação e a remoção das emissões, principalmente nas áreas de mudança de uso do solo (como agricultura, e desmatamento), energia, transportes e manejo de resíduos. Para cada área, o estudo identifica oportunidades de redução de emissões que não impactam o desenvolvimento econômico.

A efetividade das ações é medida contra um cenário de referência, que traça a atual trajetória para o futuro, já incorporando os diversos planos de desenvolvimento. Atingir o cenário de baixo carbono demandaria investimentos adicionais da ordem de 400 bilhões de dólares ao longo de vinte anos.

Segundo Christophe de Gouvello, coordenador da pesquisa, a unicidade do perfil brasileiro das emissões de gases de efeitos – essencialmente 75% oriundos da mudança do solo – mostra que evitar o desmatamento é a opção que oferece maior oportunidade para a transição para uma economia de baixo carbono.

O estudo projeta que uma nova dinâmica de uso da terra no Brasil reduziria o desmatamento em 68% até 2030. Mas isso leva à necessidade de políticas públicas e investimentos no setor agropecuário, como o gerenciamento da competição pela terra e a proteção às florestas.

“A tecnologia já existe. Há a possibilidade de conter a expansão agropecuária e proteger floresta, mas é preciso a participação governamental e o investimento – inclusive de países desenvolvimentos – na área”, disse Gouvello. “O Brasil é talvez o único país do mundo com uma legislação para manter as florestas. E isso não pode competir com a necessidade de mais terras para a produção agrícola”, disse.

Outros setores
No setor energético, como a intensidade de emissões do Brasil já é relativamente baixa, devido à matriz renovável, as possibilidades de redução são menores. Estima-se que a participação das emissões do setor no total continuará a crescer junto com a economia, podendo chegar a mais de um quarto das emissões totais do País em 2030.

Assim, mesmo com as ações sugeridas no cenário de baixo carbono, como o aumento das exportações de etanol, a eficiência energética na indústria e a integração regional, as emissões permaneceriam aproximadamente 28% mais altas em 2030 do que em 2008. Mas para Gouvello, isso não seria um problema muito grande.

“O governo brasileiro tem tradição de décadas de investimento em hidrelétricas e etanol. O grande desafio é manter a matriz energética com essa proporção de energia limpa”, afirmou. O que as projeções com o crescimento da economia realizadas pelo estudo demonstraram não ser tão possível.

Tal como em energia, o setor de transportes brasileiro é apontado pelo relatório como de baixa intensidade de carbono se comparado com outros países, devido ao amplo uso do etanol. Mesmo assim, os combustíveis fósseis em transporte respondiam por 12% das emissões de CO2 em 2008. Políticas de transporte público nas cidades e de transferência modal para transportes regionais poderiam reduzir as emissões em respectivamente 26% e 9% até 2030. Combinando estas com um aumento no uso do etanol seria possível duplicar estas reduções de emissões.

Implantar o cenário de baixo carbono na área de transportes significaria reduzir o aumento de emissões geradas pelo setor de quase 65% para menos de 17% em 2030.Já na área de manejo de resíduos, que representa o menor percentual global de emissões, com 4,7 em 2008, o estudo recomenda a queima sistemática do metano produzido, um melhor planejamento, mais investimento e incentivos para o manejo de aterros e outros serviços de coleta e processamento.

A implantação de políticas adequadas poderia reduzir as emissões do setor em 80% até 2030, um volume de abatimento comparável às emissões do Paraguai.

Conheça alguns números do estudo
• Serão necessários em média R$ 44 bilhões (US$ 20 bilhões) a mais por ano em investimentos para se implementar um cenário de baixo carbono no Brasil até 2030. Assim seria possível reduzir em 37% as emissões brutas de gás do efeito estufa ao longo do período de 2010-2030;

• A implementação das opções do Cenário de Baixo Carbono de 2010 a 2030 exigiria US$ 725 bilhões (em termos reais), mais do que duas vezes o volume de financiamento necessário em comparação com US$ 336 bilhões do cenário de referência, que considera as políticas já implantadas e os planos do Governo.

• A distribuição desse valor é: US$ 334 bilhões para energia; US$ 157 bilhões para o uso da terra, mudanças no uso da terra e florestas; US$ 141 bilhões para transportes e US$ 84 bilhões para manejo de resíduos.

• Em um Cenário de Baixo Carbono, as emissões geradas pelo desmatamento que seriam evitadas corresponderiam a cerca de 6,2 GtCO2e (bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente) no período de 2010-2030;

• No transporte regional, o estudo revelou um potencial de reduzir emissões em cerca de 9% em 2030, através da mudança de modais, tanto para o transporte de passageiros quanto de carga.

• Se forem implementadas as opções de baixo carbono, é possível remover 213 MtCO2e (milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente) da atmosfera em 2030.

• No setor energético, a adoção de opções de baixo carbono possibilitará reduzir para 297 MtCO2e em 2010, comparado com um Cenário de Referência de 458MtCO2e no mesmo período

• Na área de manejo de resíduos, a adoção de opções de baixo carbono possibilitará reduzir para 18MtCO2e em 2030, comparado com o Cenário de Referência de 99MtCO2e.

(mudanças climáticas)

2 comentários:

Anônimo disse...

muito importante a transição para a economia de baixo carbono focado na questão da terra, i.e. a floresta. temos ficar de olho na falada política florestal que está para ser aprovada no Congresso Nacional.

maria luisa disse...

reduzir emissões em cerca de 9% em 2030, através da mudança de modais é importante mas o Governo pouco investe no Setor , e pricipalmente em infraestrutura e logística