3 de dez. de 2009

EUA, China e demais países da APEC acham difícil alcançar um tratado formal em Copenhague e endossam a idéia de que a COP 15 seja um palco para compromissos políticos e não legais

Artigo recém-publicado no website Carbono Brasil (de autoria de Fabiano Ávila) coloca em discussão o verdadeiro papel da 15ª Conferência das Partes (COP-15) da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima.

No texto, o autor coloca declarações do presidente norte-americano, Barack Obama, e de líderes mundiais, dentre eles Lula, indicando que a reunião não resultará em um acordo formal entre as nações participantes. Por outro lado, o autor destaca também que os países mais vulneráveis às mudanças climáticas ainda acreditam em um acordo formal na COP-15. Leia a matéria, na íntegra, abaixo e opine: o que você acha desta possível articulação para esvaziar o caráter legal da COP-15?


Fabiano Ávila / http://www.carbonobrasil.com.br/
Acordo climático deve ficar para 2010, acredita APEC

Quem acompanhou a última rodada de negociações do clima, que foi realizada em Barcelona duas semanas atrás, não ficou surpreso com a declaração deste domingo (15) do presidente norte-americano Barack Obama e de outros líderes mundiais de que não será possível fechar um acordo climático em dezembro em Copenhague.

Em Barcelona, o tom geral era de decepção e de que as diferenças continuavam grandes demais para conseguirem ser resolvidas durante a COP 15. Numa tentativa de minimizar a possibilidade de um fracasso total da conferência, o governo dinamarquês sugeriu que Copenhague fosse palco de um ato político, com os países assumindo compromissos, mas que um acordo legal só seria firmado em 2010.

É esse plano de adiamento que Obama e os países membros da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) endossaram ao final de um encontro em Cingapura, neste final de semana. Oficiais presentes na reunião afirmaram que os políticos enxergam Copenhague como um ponto para angariar apoio e recursos para a causa climática e não como o fim das discussões sobre um acordo. O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Mike Froman, disse que a conclusão da APEC é de que “seria irreal esperar o fechamento de um acordo mundial em Copenhague, que começa em apenas 22 dias”.

“Nós estamos ficando sem tempo para essa iniciativa”, chegou a afirmar Obama. A declaração final do encontro até apóia um acordo climático, porém sem fazer menção a datas. “Ações globais para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa serão necessárias, incluindo assistência financeira e transferência de tecnologia para nações pobres”, detalha o documento.

Ainda é possível - Os países mais vulneráveis às mudanças climáticas ainda acreditam no acordo em Copenhague e, parar tentar salvar essa possibilidade, 40 ministros de meio ambiente estão na Dinamarca discutindo o que pode ser feito. “Nós acreditamos que um acordo legal ainda é possível”, afirmou o ministro do meio ambiente de Granada, Michel Church, que fala em nome de mais das 40 nações que formam a Aliança de Pequenos Estados Insulares.

O embaixador do Sudão, Stanislaus Di-Aping, que representa o grupo de países em desenvolvimento chamado de G77 e mais a China também mantém a crença de que ainda este ano podemos ter um acordo climático. “Nós não desistimos de acreditar que Copenhague pode terminar com um grande acordo assinado”, declarou.
Brasil - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou transparecer nesta segunda (16) durante seu programa de rádio que também já espera que Copenhague não chegue a um acordo por completo. Lula mencionou que aguarda avanços pelo menos nos “princípios básicos” sobre a questão climática. Ou seja, aguarda que os países façam justamente o que Obama comentou: que se comprometam politicamente.

O Brasil vem assumindo posição de destaque no cenário mundial com relação às mudanças climáticas. Na semana passada o país anunciou que levará para Copenhague uma meta voluntária de corte das emissões de gases do efeito estufa entre 36% a 39% em relação às projeções futuras até 2020. A maior parte da queda nas emissões será referente ao corte de 80% no desmatamento da Amazônia que, segundo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, resultará em um corte de 20,9% das emissões brasileiras com relação a um cenário tendencial para daqui a 20 anos.

No sábado (14), o Brasil e a França uniram forças para pressionar os Estados Unidos e China para fazerem concessões em Copenhague. Os países estabeleceram uma proposta comum, que Lula chamou de “Bíblia Climática”, que pede o corte de 80% nas emissões em 2050 com relação ao nível de 1990. Apesar de não apresentar maiores detalhes, a proposta conclui que "a luta contra a mudança climática é imperativa, mas deve ser compatível com um crescimento econômico duradouro e com a erradicação da pobreza”.

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