21 de out. de 2009

Ambientalista defende políticas públicas de apoio a projetos de geração de carbono

Em entrevista ao blog do FÓRUM DA TERRA, a ambientalista e consultora da Saber Global, Denise Gaudard, defendeu a necessidade de se buscar cada vez mais parcerias com as prefeituras para a implementação de projetos de geração de crédito de carbono. “Além de trazer benefícios relativos à preservação ambiental, os projetos também acarretam uma série de outros benefícios sócio-econômicos, de geração de renda e empregos e até de transferência e criação de tecnologia”, lembra ela, destacando que as prefeituras devem ter políticas públicas de apoio e suporte a este tipo de projeto. No bate-papo, ela destacou ainda o papel da ECO-92 para o amadurecimento do Mercado de Carbono mundial e lembrou que o primeiro projeto de carbono aprovado no mundo, dentro das regras do Protocolo de Kyoto, é brasileiro (o projeto Nova Gerar, da cidade Nova Iguaçu).

Denise ministrará o mini-curso “Introdução ao Mercado de Carbono e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo”, durante do “II Fórum da Terra”, amanhã, dia 22/10, às 18h, no Teatro Ariano Suassuna. Ainda há vagas para se inscrever no curso. Os interessados devem entrar em contato com a Saber Global, pelo telefone (21)2220-8262 ou pelo email forumdaterra@saberglobal.com.br.

Leia a entrevista na íntegra (abaixo, há apenas um trecho):

FÓRUM DA TERRA (FT): Qual é a importância do curso? O que os alunos e alunas devem esperar dele?

Denise Gaudard (D): Bom, o que está acontecendo hoje é bastante óbvio: o aquecimento global está na ordem do dia e já se sabe que todas as atividades humanas geram, direta ou indiretamente, gases poluentes que são responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta. Conscientizar, através de cursos e palestras, é a primeira iniciativa que se deve ter para, no mínimo, tentar reduzir a produção desses gases tóxicos. Hoje, é possível que qualquer pessoa, no seu dia a dia, meça a quantidade de carbono que ela pode evitar de emitir, inclusive com ferramentas já disponíveis na Internet para isso. Dentro dessa perspectiva, podemos fazer uma análise similiar dentro de uma empresa, para substituir metodologias e processos para gerar reduções significativas das emissões de gases. Este tipo de investimento é custoso, porque envolve compra de maquinas novas, capacitação de pessoal, dentre outras medidas. A implementá-lo, a empresa reduz a emissão de gases poluentes e, por isso, pode optar por construir Projetos de Geração de Créditos de Carbono, para negociar em bolsas específicas os créditos resultantes da redução da poluição causada por ela. Esta prática começou a ser feita há cerca de 10 anos, mas, no início, sem critérios claros e definidos para todos – cada país utilizava seus próprios parâmetros para calcular os créditos.


FT: A ECO92 teve um papel importante para a concretização deste tipo de projeto?

D: A ECO92 representou um essencial avanço para a adoção global dos projetos de crédito de carbono porque reuniu os ambientalistas que já vinham se organizando em torno de parâmetros unificados para a elaboração destes projetos.
A partir da ECO92, esta unificação de critérios para a criar mecanismos de redução de emissão de carbono ganhou corpo e foi institucionalizada no Protocolo de Kyoto, em 1997. Com o protocolo, os países que o ratificaram passaram a adotar os mesmos critérios para a elaboraçãod e projetos de geração de créditos de carbono.


FT: Todo esse processo históricos será abordado no mini-curso?

D: Sim, começaremos detalhando o cenário e as nuances deste processo histórico de criação e amadurecimento dos projetos de carbono. Depois, analisaremos a estrutura institucional do Mercado de Carbono, apresentando suas regras e seus agentes institucionais. Falaremos também sobre exemplos de projetos de carbono no Brasil e no mundo. Por exemplo, poucas pessoas sabem que o primeiro projeto de carbono aprovado no mundo, em 2004 e já dentro das regras do Protocolo de Kyoto, foi elaborado aqui no Estado do Rio de Janeiro, no município de Nova Iguaçu: foi o projeto Nova Gerar, que elaborou um mecanismo de captação de biogás dentro de um aterro sanitário. Outro tema que ainda abordarei no mini-curso serão os mercados voluntários que estão desenvolvendo novas formas de geração de crédito de carbono, que tem a bolsa de Chicago, como sua maior bolsa de negociações no mundo. Mas os créditos gerados nesses mercados são mais baratos que os gerados pelos critérios de Kyoto. Enquanto o crédito, pelas regras de Kyoto, vale entre 12 e 18 euros (por tonelada de carbono não emitida ou capturada), o crédito gerados por estes novos mercados valem entre 1 e 5 dólares. Vou traçar um panorama destes novos mercados também.


FT: Desde o projeto Nova Gerar, como o Estado do Rio de Janeiro, pioneiro neste mercado, avançou na criação de projetos de carbono?

D: Infelizmente, parece que foi uma coincidência que o projeto Nova Gerar tenha sido elaborado no Rio, porque, desde então, o estado avançou muito pouco. Os empresários fluminenses não têm tido a mesma visão que os paulistas, por exemplo. Eu mesma, que trabalho como consultora para este tipo de projetos, moro no Rio, mas tenho trabalhado muito fora do estado. Um projeto de carbono, além de trazer benefícios relativos à preservação ambiental, também acarreta uma série de outros benefícios sócio-econômicos, de geração de renda e empregos e até de transferência e criação de tecnologia. O estado do Rio tem tudo para ser uma potência neste mercado de geração de créditos de carbono. Para isso, falta incentivo público através de apoio e suporte para projetos regionais de carbono.


FT: Na sua opinião, qual é a importância de eventos como o “II Fórum da Terra”, dentro deste contexto do desenvolvimento do Mercado de Crédito de Carbono?

D: Estas novas informações se concentram muito na capital. O Estado tem grande potencial para geração de créditos de carbono e a proposta do Fórum é levar essas informações para outras regiões, além da capital. Temos que disseminar isso e pensar em parcerias com prefeituras para futuros projetos regionais de carbono. É possível implementá-los em pequenas experiências regionais. Para ser aprovado dentro das regras de Kyoto, o projeto tem de provar que promove o desenvolvimento sustentável regional. Sem provar isso, o projeto não é considerado um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). As prefeituras só têm a ganhar apoiando estes projetos, que gerarão aumento de arrecadação de recursos, através do incremento da economia local.

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